Entendo empatia como a habilidade de compreender o significado da experiência que uma outra pessoa está vivenciando e legitimar essa experiência. E, compreendo auto empatia como a validação dos próprios sentimentos vivenciados nas diversas situações da vida.
Quando a validação da dor ou de qualquer sentimento legítimo não se dá, seja por qual razão for, há um fracasso da empatia.
Cada pessoa vive seus sentimentos de forma singular, mas todos nós temos necessidade de atribuirmos sentido e significado ao que vivenciamos internamente. Essa construção de significado, muitas vezes, ocorre nas trocas relacionais, em que o outro legitima nossos sentimentos e nos faz companhia em nossa experiência subjetiva.
Estudiosos da empatia nas perdas humanas, os americanos e doutores em Psicologia Robert Neimeyer e John R. Jordan apontam para quatro dimensões do que nomearam como fracasso da empatia.
Da própria pessoa para si mesma, onde ela não demonstra capacidade para simbolizar, discriminar e validar seus próprios sentimentos.
Da pessoa com a família, em que o indivíduo que está sofrendo sente-se julgado e condenado por suas reações e expressões de dor. A família, de alguma maneira, além de não oferecer apoio, desautoriza sua dor.
Do indivíduo com a comunidade estendida. O estilo de vida na sociedade contemporânea não reconhece as dores da alma em vários contextos. Podemos pensar no fracasso da empatia na banalização dos sentimentos da criança que perde seu animal de estimação, do provedor que perde seu emprego ou a prometida promoção e do adolescente que perde seu grande amor. Esses lutos são, geralmente, minimizados ou negados pelas pessoas do convívio, causando confusão e solidão para aqueles que estão sofrendo.
E do indivíduo com a dimensão espiritual. A pessoa que está vivenciando uma dor profunda, busca ajustes para lidar com ela nas dimensões psicológica e espiritual. Ela pode se revoltar e questionar sua fé ou seu sistema de apoio psicológico. Quando esse processo não pode ser normalizado, o fracasso da empatia é instaurado.
Vemos assim que, o desenvolvimento e o aprimoramento tanto de nossa capacidade auto empática quanto de favorecer a empatia nas nossas relações interpessoais, passa por transcendermos os julgamentos que levam à condenação de nós mesmos e do outro e nos (re)humanizarmos.
A constatação de que todos nós vivemos dificuldades e perdas em nossas vidas e o cultivo de uma relação mais gentil e acolhedora conosco e com os outros pode inaugurar uma era empática no mundo e em nossas relações.
Brené Brown, pesquisadora americana da culpa e da vergonha na Universidade de Houston, encontrou em seus estudos que a culpa é um sentimento relacionado ao senso de que fizemos algo errado (mesmo quando não era possível fazer de outro modo), mas que mais sério ainda, a vergonha é um sentimento indicador de que a pessoa se sente um equívoco, um erro humano.
Ao analisarmos o ser humano a partir desses sentimentos, culpa e vergonha, somos remetidos ao alto nível de auto exigência e um baixíssimo senso de dignidade humana. Nesse contexto, nossa capacidade auto empática fica seriamente comprometida.
Por outro lado, se nos percebermos como seres humanos complexos, com uma gama enorme de sentimentos e de necessidades concorrendo em nós o tempo todo, talvez possamos ver benefício em integrarmos nossas fragilidades e vulnerabilidades. Com isso, aprenderemos a tratar-nos auto empaticamente e aos outros com uma presença humana genuína e compreensiva de suas experiências subjetivas.
Por Lucia Maria Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
0 Comments