Gandhi foi um líder político e espiritual, reunindo em sua liderança aspectos pragmáticos de expressão embasados numa filosofia ética e humanizadora, que incluía a todos.
Falava em ahimsa, a não-violência, que parte da premissa de que todos os seres vivos têm uma centelha da energia espiritual divina; consequentemente, ferir alguém é ferir a si próprio. Dizia:
“Toda a humanidade é uma grande família.”
O preceito de “não causar dano” do ahimsa inclui intenção, palavras e pensamentos do praticante.
Difere de passividade, pois busca obter ações justas para todos, por meio da resistência pacífica que Gandhi praticava fazendo jejum e da desobediência civil, como os movimentos que ele liderou e convidou a população a aderir, tais como marcha do sal e fiar os próprios tecidos.
Ahimsa, a não-violência, é a não aceitação de sistemas que privilegiam alguns em detrimento de outros, que por sua vez, são feridos, excluídos ou humilhados.
Seu movimento para a Independência da Índia recebeu o nome de Satyagraha, junção das palavras satya – verdade com agraha – força. Este termo ficou conhecido como “Força da alma”.
Gandhi acreditava que não haveria a expressão da não-violência sem o reconhecimento de que cada um de nós tem aspectos intrínsecos violentos. Para praticar o ahimsa, precisamos antes, conhecer, integrar e transformar nossa própria violência. Isso está relacionado com o conceito de verdade.
Marshall Rosenberg, o sintetizador da Comunicação Não-Violenta, após buscar em fontes como a sociologia e a psicologia, encontra inspiração para sua abordagem na prática da não-violência de Gandhi. Ele disse:
“Somos perigosos quando não estamos conscientes da nossa responsabilidade pelo modo como nos comportamos, pensamos e sentimos.”
Na sua trajetória, Marshall Rosenberg cria um pressuposto que conversa com os vivenciados por Gandhi quando traz as necessidades humanas e universais, como aquilo que todos os seres humanos têm em comum e buscam atender o tempo todo, como: pertencimento, apoio, clareza, amor, sentido, respeito, reconhecimento, etc.
Em Gandhi, temos o conceito de centelha da energia espiritual divina:
“Toda a humanidade é uma grande família.”
Em Marshall, o conceito central são as necessidades humanas e universais, presentes em todas as pessoas de todas as culturas. É a nossa força de vida:
“Toda violência é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida.”
Isto quer dizer que sempre que agimos de maneira a magoar ou machucar alguém, estamos tentando satisfazer alguma necessidade, mas não sabemos bem qual é esta necessidade e nem como fazer isto.
Praticar a cultura da não-violência, talvez seja, aprender o caminho de uma expressão honesta e ainda assim, empática e compassiva. E ainda, manter viva a intencionalidade de colaborar para que todos nós tenhamos nossas necessidades atendidas.
O que mais esses grandes humanistas e pacifistas tinham em comum?
Eles enxergavam e acreditavam numa mudança profunda dos paradigmas vigentes e nos convidaram a isso, envolvendo a todos.
Perseverança e persistência. Ensinaram-nos a superar barreiras em curto e médio prazo, em prol do objetivo em longo prazo.
Liderança íntegra e humilde. Eles praticavam aquilo que ensinavam.
Trabalhavam com redes de apoio. As mudanças sociais se fazem em grupo, com a comunidade, com apoio e contribuição.
Compartilhavam o poder. O poder-sobre era trocado pelo poder-com, incrementando a cultura de cooperação e compreensão.
Expunham as injustiças, corajosamente.
Que tal nos inspirarmos nessas grandes almas e nós também nos empenharmos para construir o mundo que gostaríamos de estar vivendo, com responsabilidade e comprometimento uns com os outros?
Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
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