A partir dos ensinamentos de Marshall Rosemberg, o criador da CNV – a Comunicação Não Violenta, que se inspirou em grandes almas, como Gandhi e Paulo Freire, tenho refletido sobre o que é o amor como verbo. Talvez seja o amor no modus operandi do fazer, da ação. Talvez seja atravessar a idealização do amor, quer seja romântico ou humanitário, egoísta e materialista ou socialista – para praticar o amor. Seria algo como sair do mundo fértil das ideias para adentrar o mundo concreto das ações.
Usando a palavra “talvez” como sinônimo de “possibilidade”, o amor como prática, talvez seja oferecer minha presença – a mais genuína que eu conseguir oferecer – para estar com o outro, com os grupos, na dor, no sofrimento, na opressão, na humilhação e buscarmos juntos uma via de transformação autêntica e não violenta para recuperação do estado de dignidade e de reconhecimento de nossa humanidade compartilhada.
Entendo que esse seja o alcance da CNV, que pode ser vista como uma prática espiritual ampla e sistêmica, que compreende que o mundo não será satisfatório e repleto de dignidade enquanto houver uma consciência de privilégios, enquanto alguns de nós precisarmos nos sentirmos, de alguma forma (pelo poder, dinheiro, posses ou força), superior ao outro. Dito de um jeito diferente, acredito que o amor não será um verbo conjugado na nossa linguagem social enquanto eu depender de ter pessoas humilhadas, vivendo sem dignidade, para que eu me sinta especial.
Os grandes humanitários de nossa história, como Gandhi e Martin Luther King, chegaram a um nível de simplicidade e reconhecimento de nossa humanidade em comum, que são inspiradoras para nós, mesmo depois de tantos anos de suas mortes.
Todos nós, seres humanos, acredito, temos necessidade tanto de doar amor, como também de receber. Isso fica bem claro, quando vemos as pessoas solitárias em busca de um animal de estimação para trocar afeto positivo.
No relacionamento de um casal – muito diferente das declarações de amor tão difundidas nas novelas, mas talvez vazias de sentido – o amor como verbo poderia ser: ter uma conversa autêntica e respeitosa que estabelece conexão, fazer um jantar, limpar a varanda do apartamento, fazer uma massagem nas costas e talvez dedicar um tempo para estar com o outro verdadeiramente.
Estou falando de uma ação mostrando minha intenção de apoiar, cooperar, alimentar, contribuir e participar junto com o outro, porque entendo que isso constrói e enriquece a relação. Aqui atuo como sujeito, como protagonista empoderado da relação que quero viver.
E você, quer refletir sobre o que gostaria de doar e o que gostaria de receber para atender sua necessidade de amor? Como faria isso?
Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
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