Principalmente, tenho ativado meu potencial humano e amoroso e assim reconhecido a humanidade em todos. É encantador perceber que todos nós temos as mesmas necessidades, tais como apoio, reconhecimento, respeito, pertencimento, integridade, inclusão, empatia, amor, segurança, clareza. Essas necessidades são tão legítimas quanto as necessidades de alimento, sono, descanso, lazer ou sexo. Elas estão vivas em mim e em todas as pessoas. Ao me dar conta de que todos nós precisamos das mesmas coisas para estarmos satisfeitos, essa consciência me coloca mais próxima, mais conectada com as pessoas que amo e com todas as pessoas. A qualidade de minhas relações está se transformando, está re-humanizada.
Eu acredito fortemente que tudo que queremos na vida é estarmos em bons relacionamentos, é sentirmos conexão com as pessoas da nossa família, com quem trabalhamos, na nossa comunidade. Isso propicia o bem-estar e um bom tanto do que chamamos de felicidade, pois certamente somos seres sociais, seres das relações, nos compomos com os outros.
O que é a Comunicação Não-Violenta?É um campo vasto de conhecimentos que vamos absorvendo, elaborando e criando contornos, num processo reflexivo e vivencial, que envolve a cognição, o afetivo, o corporal, o intuitivo e o espiritual, e que leva tempo, é processual. É um saber fundamentado num paradigma novo, das práticas colaborativas e da pós-modernidade.
De onde compreendo, a CNV é um acesso prático para a expressão da Não-Violência ou Ahimsa. Esse termo tem origem no hinduísmo, foi popularizado por Mahatma Gandhi que inspirou o idealizador da CNV, Marshall Rosemberg, um psicólogo americano. Diz respeito a uma atitude de clareza em relação aos nossos inerentes aspectos destrutivos e construtivos. A Não-Violência é a escolha ativa e consciente em nos expressarmos a partir do que é construtivo em nós e a percepção de que vivemos sistemicamente, estamos todos interligados compondo o nosso campo de relações humanas. Traz uma intenção para o benefício e o bem-estar comum.
Então a CNV é uma técnica conversacional para estabelecermos boas relações?Embora existam princípios e componentes que compõem a CNV, ela não é uma técnica, é uma prática embasada em uma intenção de estabelecer conexão com as pessoas por meio de uma visão que transcende o olhar para suas ações e falas, e procura aquilo que está por trás de cada comportamento ou expressão. Desta forma, o olhar recai naquilo que somos como humanos, aquilo que nos aproxima e que temos de igual. Eu diria que A CNV está alicerçada num processo de re-humanização profunda e isto é muito maior que uma técnica.
Por exemplo: Quando vemos uma expressão forte de agressão na rua, como um assalto, eu certamente não estou de acordo com a atitude violenta, invasiva e desrespeitosa do assaltante, mas ainda assim eu posso me perguntar quais eram as necessidades nele que não estavam atendidas para que essa expressão acontecesse: o assalto. E provavelmente vou encontrar que ele se sente excluído da sociedade, precisando atender suas necessidades humanas de apoio, amor, segurança, pertencimento, apreciação, interdependência, inclusão, empatia, suporte, igualdade e tantas outras. E quando entendo isso, eu me coloco no sistema, isto é, me corresponsabilizo pela sociedade que estamos fazendo surgir e ainda mais, crio uma conexão de humano para humano com esse ser humano que assaltou. Acredito que essa é a mudança estrutural que estamos precisando fazer em nosso mundo. O ato de criticarmos, reclamarmos e nos indignarmos, por mais legítimo que seja, não está dando conta das transformações que todos queremos que aconteçam, não é? Acredito que mudanças estruturais em nossas consciências e formas de relacionamento com o outro são necessárias. Acredito que o convite seja para sairmos da esfera do individualismo extremo para o coletivo e o sistêmico.
Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
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