Penso que estamos vivendo num mundo em crise e onde muitas formas de violência têm atravessado vários setores, desde a ecologia, passando pela política, família, escola e chegando em nossas relações interpessoais e coletivas.
Quando observo a cultura de entretenimento lucrando com a exposição constante da violência por meio de filmes, jogos, livros e música, fico assustada e preocupada, pois entendo que isso ajuda a incrementar a violência, além de banaliza-la. Estamos nos divertindo com o consumo da violência! Aquilo que fere e causa danos ao outro ser humano é parte do nosso lazer!
Ao falarmos em cultura de paz, violência ou não-violência, o que mesmo estamos querendo dizer? Como discriminar violência, não-violência e passividade? Será que achamos que fazer nascer um “eu não-violento” é ficar bonzinho? Vamos refletir.
A violência é aquilo que submete a pessoa a uma situação cruel e lhe retira os seus direitos. As formas autocratas de dominação por dinheiro, por território, por religião ou pela força física geram violência. Violência tem a ver com exclusão e com o não atendimento das necessidades humanas e universais.
Quanto mais uma sociedade cria grupos de exclusão, mais violenta fica. A violência ocorre quando um dos protagonistas exerce sobre o outro uma ameaça de exclusão, de eliminação e de morte. Na expressão da violência o ser humano passa a ser um objeto. Por isso, a violência nunca é justa e desumaniza as relações.
EU FALARIA TAMBÉM EM VIOLÊNCIA NA COMUNICAÇÃO, OU O QUE CHAMAMOS DE COMUNICAÇÃO VIOLENTA.
A passividade tem relação com aquela posição de que se “eu não estou fazendo mal, não estou colaborando para a violência”. Não há implicação do sujeito com a história que está sendo coletivamente produzida. É o pensamento recorrente e comum de “não tenho nada com isso; O que eu posso fazer? ” Ou, “ não adianta, o mundo não vai mudar! ” E ainda, é comum a ideia de que “alguém vai dar um jeito nesse caos que estamos vivendo”. Não há implicação do sujeito com o que está acontecendo ao seu redor e não há empoderamento deste para participar de uma transformação social.
A não-violência é ativa. Eu entro no conflito para transformá-lo, digo “não” para a usurpação dos direitos e necessidades humanos. A forma como faço isso é respeitosa, compassiva, humanizada.
Gandhi, Martin Luther King e outros grandes pacifistas usaram da resistência pacífica e da desobediência civil para lutar contra as injustiças e obter dignidade para todos.
No paradigma não-violência, eu me empodero dos meus direitos, os direitos de ter minhas necessidades humanas universais atendidas e contribuo para que todos as tenham.
A não-violência quer conjugar a justiça, a liberdade, a dignidade, e quer que todos possam usufruir desses valores.
A prática da não-violência é um trabalho árduo, exige coragem, pois suas expressões incomodam os sistemas sociais estabelecidos, e, muitas vezes, opressores. Ela é construída a partir do reconhecimento da nossa própria violência, para então, fazermos a troca dessa consciência guerreira, competitiva e abusiva para uma consciência altruísta, generosa e corresponsável pelo mundo que gostaríamos de estar pertencendo.
“Essa é a essência do princípio da não-cooperação não-violenta. Deve ter suas raízes no amor. Seu objetivo não deve ser punir o oponente ou inflingir-lhe qualquer injúria. Mesmo enquanto não cooperamos com ele, devemos fazê-lo sentir que tem em nós um amigo. Devemos também tentar atingir seu coração, prestando-lhe um serviço humanitário, sempre que possível. ” – Mahatma Gandhi
Por Lucia Maria Nabão – Outubro/2017
Psicóloga e facilitadora de Comunicação Não-Violenta
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