A força do diálogo

27 de May de 2019

Faz sentido para você pensar que diálogo é uma conversa em que uma pessoa está genuinamente com disponibilidade de escutar a outra, e, a outra está interessada e curiosa sobre o que a primeira está narrando?

 Talvez a escuta ativa seja a base do diálogo. E o interesse ou a curiosidade, bem como o desejo de compreensão seja a outra perna desse intercâmbio entre as pessoas.

Quando num diálogo alguém é ouvido verdadeiramente, há uma transformação em quem narra e em quem escuta e faz perguntas abertas e generativas.

O diálogo opera para além dos julgamentos condenatórios, preconceitos e diagnósticos. Quando meu colega de trabalho me diz que gostaria de ir almoçar sozinho, eu posso lhe perguntar se ele não quer minha companhia porque não gosta de mim, criando uma base de relacionamento de desconfiança, a partir de meus pressupostos, ou, posso perguntar se ele precisa de um tempo para se conectar consigo mesmo, ou ainda quais necessidades ele está buscando atender quando escolher ficar só.  

O diálogo pode ser entendido como uma maneira intencional de fazermos uma reflexão conjunta, uma fertilização mútua e uma observação coletiva com a participação de todos na experiência, para fazermos nascer novas percepções, compreensões e ideias.

David Joseph Bohm (1917-1992) foi um físico estadunidense, residente na Inglaterra, que estudou esse tema com profundidade.

Observou que temos um automatismo para nos colocar no campo entre o concordo e não-concordo, que pode ser reducionista e próprio do pensamento linear e pouco complexo.
Dia + logo    dia = por meio de, através de   e    logo = a palavra, o sentido da palavra

  • Consigo mesmo, com o outro, com muitos.
  • Uma sucessão de sentidos fluindo através de vários de nós ou entre nós 2.
  • Surge algo novo, que não estava presente antes.
  • Não tento ganhar (isso é debate ou discussão), não jogo contra o outro.
  • O sentido compartilhado é o que mantém as sociedades juntas, como um adesivo, um cimento.
  • Discussão e /ou debate é para analisar e fraccionar. Tem seu lugar e função, mas não é diálogo.
  • Diálogo também é diferente de barganha. Ex. política e relação mãe-filho.
  • Perguntar: “O que quero ver produzido? ”

PRESUNÇÃO ou OPINIÃO:

  • Está presente em todos nós e em todas as culturas, vem de experiências prévias. Cada um tem uma opinião: sentido da vida, interesse próprio, interesse do país, religião.
  • Defender uma presunção é, muitas vezes, eliminar tudo que for novo. Às vezes, não temos consciência de estarmos defendendo uma presunção/opinião. “Sentimos” que algo é verdadeiro e o defendemos quando alguém discorda. Ex: “O espiritismo é melhor que o catolicismo”. Cada um acha que está certo e não tem diálogo, o novo não é construído. No diálogo, observamos as diferentes opiniões sem decidir.

Para dialogarmos, primeiro suspendemos nossas presunções (elas estão lá, só estão suspensas). É algo como ouvir e não acreditar, nem desacreditar, deixar o julgamento de lado por um tempo. Compreender sem hostilidade. E depois do encontro com o outro, podemos resolver o que vamos fazer com o que escutamos do (s) outro (s).

O diálogo quer abrir um espaço (um vazio que pode nos angustiar), onde não estamos obrigados ou convidados a fazer coisa alguma, nem chegar a conclusões.

As pessoas pensam juntas, constroem sentidos e significam os eventos juntas – pensamento coletivo. Um tem uma ideia, o outro a acolhe, o outro acrescenta algo e o pensamento flui, o que é diferente de tentar convencer o outro. Assim, diálogo tem relação com a comunicação no sentido de participação e conexão. Todos somos partes do que é construído através das palavras e ideias.

“Se cada um de nós nesta sala está suspendendo, então estaremos todos fazendo a mesma coisa. Estamos todos olhando para tudo, juntos. O conteúdo de nossa consciência é essencialmente o mesmo. De fato, um tipo diferente de consciência é possível entre nós, uma consciência participativa – como de fato a consciência sempre é(…). Tudo pode mudar entre nós. Cada pessoa está participando, é parte do sentido integral do grupo e também está participando nele. Podemos denominar isto de um verdadeiro diálogo. ” (1990)

Bohm, David, SOBRE O DIÁLOGO, palestra proferida em Ojai Califórnia em 06/11/1989.
Bohm, David, Diálogo. Comunicação e Redes de Convivência, Palas Athena, SP

​Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta

Lucia Nabão

Tem diversas formações nacionais e internacionais em Psicologia, Mediação de Conflitos, Círculos de Construção de Diálogo, Formação Holística de Base na Universidade da Paz. Atua como Psicóloga, Facilitadora em CNV e Anfitriã de Grupos Estudo e Prática de CNV em Ribeirão Preto e São Paulo. A integração de sua vivência prática e de todos os conhecimentos adquiridos a fazem uma profunda conhecedora da alma humana o que lhe confere grande prestígio em suas áreas de atuação.

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Comentários

1 Comment

  1. Avatar

    Oi, Lucia, feliz p estar nesse grupo e poder participar dessas discussões. Li o texto indicado e é mto bom saber de como nos sentimos qdo participamos de um diálogo. Desde perceber q um diálogo é uma conversa a dois e não precisamos ter os mesmos pensamentos p brotar HARMONIA entre os dois.

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