Acredito que uma das maiores contribuições da Comunicação Não-Violenta está em aprendermos a fazer escolhas conscientes, baseadas na intenção do que queremos construir e cultivar em nossas vidas e não naquilo que queremos evitar.
Essa intenção construtiva só é possível quando temos consciência do que é importante para nós. Quando entramos em contato com nossa motivação original, algo bem mais profundo nos energiza e nos encoraja a viver com mais autenticidade.
O contrário de viver em autenticidade seria fazer algo porque “temos de”, por que esperam algo de nós, porque precisamos nos encaixar em certos padrões buscando a aprovação dos outros ou ainda porque aceitamos a ideia de que existe um jeito certo e errado de se fazer as coisas.
Você já parou pra pensar nas atividades que detesta fazer, mas continua fazendo assim mesmo, porque acredita que não tem escolha?
Esse tipo de pensamento é uma forma de violência contra nós mesmos, nos enfraquece, diminui nossa potencialidade e nossa energia vital.
É comum usarmos algumas formas de linguagem que nos nega essa possibilidade de escolha, como por exemplo, eu deveria, eu tenho de, não posso, esperam que eu faça, estou cumprindo ordens e por aí vai.
Essas expressões nos vitimizam e nos afastam da responsabilidade pelos nossos comportamentos e atitudes. Ficamos como robôs, automatizados, renunciamos à vida em nós, aos nossos talentos únicos e a uma maneira mais criativa de contribuir com o mundo através de nossa autenticidade.
Um jeito de transformamos esse tipo de comportamento é encontrarmos a verdadeira motivação por trás de nossas ações e a partir daí fazer escolhas motivadas pelo prazer e pela intenção de melhorar a vida e não por medo, culpa, vergonha, dever ou obrigação.
Em seu livro, Comunicação Não-Violenta, Marshall Rosenberg diz que esses sentimentos estão associados a ideia de que “temos de” fazer algo e propõe o exercício de trocarmos essa expressão por “escolho fazer” ________(ações) porque ________(valores/necessidades).
Exemplo:
“Eu tenho de fazer um controle mensal das minhas despesas pessoais.” Essa é uma das tarefas que mais detesto fazer, mas primeiramente preciso reconhecer que escolhi fazê-la, ninguém me obrigou.
Depois de reconhecer que escolhi fazer isso, entro em contato com a motivação por trás da escolha completando: “Escolho fazer o controle mensal das minhas despesas pessoais, porque quero ter sustentabilidade e previsibilidade na minha vida financeira.”
Agora sabendo o que me motiva posso optar por continuar fazendo eu mesma esse controle ou até pensar em outras estratégias que cuidem dessas minhas necessidades. Quem sabe pedir apoio ou contratar alguém?
Esse exercício nos ajuda a investigar quais valores importantes estão por trás das escolhas que fazemos. Marshall diz quando ganhamos clareza a respeito das necessidades que estão sendo atendidas por nossas ações, podemos sentir estas como prazerosas, mesmo quando envolvem trabalho duro, desafios ou frustrações.
Nossas ações passam a ser conscientes e dessa forma entendemos que temos escolhas e podemos seguir fazendo o que fazemos ou podemos encontrar outras maneiras de cuidar de nós para satisfazer essas necessidades.
Um aspecto importante que seria útil atentarmos ao buscar descobrir as motivações por trás de nossas ações, é que elas podem estar associadas a um tipo de recompensa extrínseca, ou seja, quando fazemos algo para sermos recompensados ou para não sermos punidos. A punição ou a recompensa podem ser o gatilho que nos impulsiona a fazer algo. Não gostamos do que fazemos, mas gostamos da recompensa que aquilo pode nos trazer, mesmo que façamos a tarefa sem prazer ou por obrigação.
Algumas motivações extrínsecas podem ser por dinheiro, aprovação dos outros, e mais uma vez para evitar punição, por vergonha, por culpa e por dever.
Brené Brown, pesquisadora sobre os sentimentos de vergonha e culpa, em seu livro “A coragem de ser imperfeito” cita que:
“A vergonha só triunfa nos sistemas em que as pessoas desistem de se comprometer com algo para se protegerem. Quando estamos desmotivados, nós não nos mostramos, não contribuímos e deixamos de nos importar.”
Ela ainda nos faz algumas provocações a respeito de como fazemos nossas escolhas:
“Minhas escolhas estão confortando e alimentando meu espírito ou são alimentos temporários da vulnerabilidade e das emoções difíceis que acabam esgotando minhas energias? Minhas escolhas levam a plenitude ou fazem com que eu me sinta vazio e carente?”
Brown conclui que o verdadeiro comprometimento espiritual não é construído sobre a submissão, mas é produto do amor, da aceitação e da vulnerabilidade.
Por Cristiane de Paula – Coach, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de CNV
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