Pensamos em família como um grupo de pessoas ligadas por um forte vínculo afetivo e com muitas demandas. As famílias recebem influência do sistema, isto é, da cultura, das religiões, da mídia, dos seus antepassados, entre outras.
Num modelo bem tradicional, os pais são responsáveis de muitas maneiras pelos filhos, em sua formação, educação, sobrevivência, saúde e segurança. Eles se apropriam do poder, do saber e da responsabilidade e lidam com os filhos numa relação vertical. Exercem certa autocracia, fato nomeado na abordagem da Comunicação Não-Violenta de “poder-sobre”.
Muitas vezes, nessa forma relacional, os pais sentem-se satisfeitos em estarem cumprindo com seus papéis e suas necessidades ficam atendidas.
Mas, a mesma satisfação não é encontrada nos filhos, pois suas necessidades não estão sendo vistas. Deste desencontro, pode nascer muitos dos conflitos familiares.
Estamos falando de pais e filhos, mas o mesmo pode acontecer entre marido e mulher, avós e netos, irmãos, etc.
A CNV oferece uma nova base de relacionamentos familiares e interpessoais, nomeada por “poder-com”. Um lado vai se conectar com suas necessidades e também buscar saber as necessidades do outro. Quando as necessidades de ambas as partes envolvidas são nomeadas, os acordos possíveis ficam próximos e tangíveis. Abre-se um leque criativo de estratégias com o objetivo de atender parcialmente a todos.
Vamos a um exemplo:
Uma mãe relatou-me que sua filha de 14 anos tinha muita dificuldade de acordar na hora certa para tomar café com a família e depois ir para a escola e chegar na hora. Todos os dias a garota se atrasava e a mãe ficava raivosa. Essa mãe, que levava a filha para a escola e ia trabalhar, já havia tentado de muitas formas, a garota tinha 3 despertadores no seu quarto. Nada resolvia e a mãe estava frustrada e a filha confusa.
Quando a mãe pode colocar as necessidades da filha (dormir um pouco mais, descansar, acordar com calma) para conversar com suas próprias necessidades (levar a filha para a escola, participar, organizar, respeitar, expressar sua responsabilidade de mãe), juntas decidiram que a menina iria dormir mais 15 minutos todas os dias e que tomaria seu café da manhã no intervalo das aulas. Essa foi uma saída criativa, produzida pelo olhar das necessidades das duas pessoas.
Como seria para você compartilhar o poder, compartilhar as responsabilidades e o saber com sua família? Quer experimentar? Pode ser surpreendente!
Por Lucia Maria de Oliveira Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em CNV
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